A. T. Jones: Um dos “Servos Leais” de Deus
Ron Duffield, 19 de janeiro de 2002
Antes de investigarmos a vida de A. T. Jones, precisamos entender a importância e o valor de investigar a história. A própria Bíblia é um livro de história. Deus não colocou as histórias ali só para nos entreter. A história de Davi e Bate-Seba não é simplesmente outro episódio de triângulo amoroso de Hollywood. Ela mostra as terríveis consequências do pecado, não apenas sobre o indivíduo, mas sobre toda a nação. Revela também o perdão de Deus e como a restauração é produzida. A história das peregrinações de Israel no deserto por 40 anos, bem como suas causas, foi repetida aos filhos de Israel por Moisés quando estavam se preparando para entrar na terra prometida. O propósito era que eles tivessem uma compreensão melhor dos fracassos humanos e da misericórdia de Deus e que servisse também de advertência para que a história de seus antepassados não se repetisse. Paulo lembra os cristãos do Novo Testamento da história de Israel também. Está escrita ali também para nossa admoestação:
“Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10:6).
Uma boa quantidade dos escritos de Ellen White poderia ser considerada registro histórico. O propósito desses escritos, ou Testemunhos, não se restringem àqueles que viveram quando foram escritos. Sua função é nos salvar dos mesmos erros ou fanatismo que ocorrerão em nossos dias. À medida que aceitarmos essas descrições e advertências do passado, aprendermos com elas e atentarmos para os relatos que mostram a nítida direção e bênção divinas, nada teremos a temer quanto ao futuro:
“Depois de 1844, tivemos que enfrentar fanatismos de todas as espécies. Foram-me dados testemunhos de repreensão, que deveria apresentar a alguns que mantinham teorias espíritas. […] A experiência do passado há de repetir-se” (Testemunhos para a Igreja, vol. 8, p. 292, 293).
“Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 443).
Precisamos ter uma compreensão adequada do contexto em que Jones e Waggoner trabalham em prol da causa da liberdade religiosa. Veremos brevemente o que estava ocorrendo pouco antes e durante 1888. Em 1863, o mesmo ano em que a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi organizada, outro grupo também foi organizado. Trata-se da Associação da Reforma Nacional (ARN). Não demorou muito para que seu propósito ficasse claro. Durante a segunda reunião dessa organização (1864), ela deixou claro que parte do trabalho de “Reforma” a ser empreendido estava relacionada com a devida legislação da observância sabática (ou seja, do domingo):
“Artigo II. O objetivo desta Sociedade será manter os aspectos cristãos que existem no governo americano, promover reformas necessárias na ação do governo no que diz respeito ao sábado,1 à instituição da família, ao elemento religioso na educação, ao juramento, à moralidade pública, tão afetada pelo tráfico de bebidas alcoólicas e outros males semelhantes; e garantir que haja uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que possa afirmar a fidelidade da nação a Jesus Cristo e sua aceitação das leis morais da religião cristã” (Blakely, American State Papers, p. 342-343).
Após vários anos de tentativas e fracassos nos esforços para conseguir alguma emenda na Constituição nacional, a ARN decidiu concentrar seu trabalho no nível estadual. Essa obra teve rápido sucesso, à medida que Estados promulgavam leis dominicais que provocaram perseguições quase que imediatas contra adventistas do sétimo dia. Durante os próximos 20 anos aproximadamente, mais de 250 adventistas do sétimo dia foram presos nos Estados Unidos e em outras partes do mundo por transgredirem leis dominicais (considerando uma membresia de 30 mil membros na época, isso seria equivalente a 92 mil prisões dentre um total de 11 milhões de membros atualmente). Quando os adventistas se depararam com esses eventos, começaram a perceber que as predições feitas nos últimos 30 anos estavam se cumprindo em seus dias:
“Por 30 anos, ou mais, tem sido a expectativa do nosso povo que leis dominicais sejam impostas de forma opressiva contra os que observam o sábado do sétimo dia. […] Vemos agora evidências da rápida aproximação do conflito final. O interesse crescente em leis dominicais e na santidade do domingo, em escala mundial, é nítida prova da veracidade de nossa posição” (G. I. Butler, Review and Herald, 6 de julho de 1886).
Nesse mesmo ano, teve início o periódico The American Sentinel [A Sentinela Americana], publicado no prédio da Signs of The Times em Oakland. J. H. Waggoner era o editor-chefe, mas, em um ano, tanto A. T. Jones quanto E. J. Waggoner se tornaram editores associados. Em 1887 a Associação Geral designou uma Comissão de Liberdade Religiosa, elegendo A. T. Jones como presidente. O propósito da comissão era trazer mais publicidade à questão da liberdade religiosa por meio de materiais impressos, conferências públicas e petições contra propostas de leis dominicais. A comissão também encorajava os membros a se envolver ativamente na causa da liberdade religiosa e fornecia assistência legal a adventistas acusados de trabalhar aos domingos.
Por volta de 1888, a situação havia se tornado muito mais séria. A ARN, satisfeita com os bons resultados da obra no nível estadual, novamente dirigiu a atenção para a esfera nacional no intuito de conseguir uma emenda à Constituição dos Estados Unidos. Se antes estavam trabalhando quase isolados nesse projeto, em 1888 várias outras organizações já haviam se unido à causa. Em 1887 a União Feminina de Temperança Cristã [Woman’s Christian Temperance Union] se uniu à ARN. Igualmente, nesse mesmo ano, a União Americana do Dia de Descanso [American Sabbath Union] foi formada, aliando-se à ARN. No início de 1888, o Partido da Proibição [Prohibition Party] também se uniu ao movimento, criticando abertamente a separação entre igreja e Estado.
“Em 1863, havia uma única organização inexpressiva [ARN] defendendo esses princípios antiamericanos; em 1888, havia quatro, e cada uma das três adicionais tinha força para exercer uma influência maior sobre o povo em geral do que a organização mentora. A eficiência do poder operando contra a Constituição e contra os princípios fundamentais da liberdade americana havia mais do que quadruplicado” (Religious Liberty in America [Liberdade Religiosa na América], p. 283].
Mesmo no meio espírita, havia a consciência de que grandes coisas estavam no horizonte e que logo ocorreriam mudanças. A Review and Herald publicou um artigo sobre o Banner of Light [Bandeira de Luz], renomado periódico espiritualista, em que o ano de 1888 era descrito como um ano “prodigioso e pressagioso”, um prenúncio de coisas extraordinárias que em breve aconteceriam.
“Ele [o Banner of Light, 23 de fevereiro de 1889] declarou que o ano de 1888 foi um ano prodigioso e pressagioso, por ter lançado os fundamentos de mudanças extraordinárias no mundo espiritual, que se tornarão mais evidentes no corrente ano. […] [O artigo prossegue com citações do Banner of Light] ‘É possível que a revolução iminente sobre o mundo se concentrará no plano religioso. […] um conflito final entre os poderes liberais e os poderes que creem numa autoridade espiritual e temporal unida deverá ser o resultado’” (Review and Herald, 9 de abril de 1889).
Como se o quadro sombrio não fosse o suficiente, o ano de 1888 presenciou também a submissão de um projeto de lei dominical – não uma mera petição – ao Congresso. Este foi apresentado pelo senador Blair de New Hampshire, em 21 de maio de 1888. Depois de alguns dias, um segundo projeto de lei foi apresentado ao Congresso com a intenção de propor uma emenda à Constituição dos Estados Unidos.
Ao apresentar uma síntese sobre a vida de A. T. Jones, não é nosso propósito colocá-lo num pedestal diante das pessoas, tampouco fazê-lo passar por infalível. Ele cometeu, sim, erros, e Deus o corrigiu por meio de Ellen G. White. Mas ele foi escolhido por Deus para trazer uma mensagem a esta igreja. Infelizmente, a única biografia escrita sobre A. T. Jones e publicada pela Igreja Adventista, bem como vários outros livros em que é mencionado, o retrata, do começo ao fim, como alguém com muitos defeitos fatais:
“Eu estava me esforçando ao máximo para demonstrar [em 1888 to Apostasy [De 1888 à Apostasia] que Jones foi excêntrico do começo ao fim. […] Isso ficou comprovado pelos […] seus extremos em praticamente cada aspecto da liberdade religiosa. […] A mensagem que eu estava tentando comunicar era que, durante o período de ‘heroísmo’ de Jones, ele esteve cercado de sérios traços de caráter, a despeito do apoio que Ellen White lhe deu” (Adventist Currents, abril de 1988, p.43).
Vimos muito brevemente sobre a história da legislação religiosa que nos conduziu até o ano de 1888. Percebemos que, tanto no mundo quanto na igreja, havia uma culminação de ventos que apontavam para o fato de que Cristo estava disposto a preparar um povo para completar a obra e permanecer firme durante as cenas finais da história terrestre. Porém, devido a discordâncias entre os irmãos contra a mensagem que Jones e Waggoner estavam pregando, as grandes questões que desafiavam a igreja foram perdidas de vista:
“Pelo fato de as ideias de alguns não estarem em harmonia exata com as suas próprias ideias em cada ponto de doutrina, envolvendo ideias e teorias secundárias que não são questões vitais, a grande questão da liberdade religiosa em nossa nação, e suas muitas implicações, representa para muitos um assunto de pouca importância. Satanás está conduzindo as coisas do seu jeito, mas o Senhor levantou homens e lhes deu uma solene mensagem a ser transmitida ao povo, a fim de despertar os homens poderosos para se prepararem para a batalha, para o dia da preparação de Deus. Satanás procurou tornar essa mensagem sem efeito algum; e em vez de cada voz e cada pena terem se engajado intensamente no trabalho para deter as operações e o poder de Satanás, houve uma retirada, houve diferenças de opinião” (Ellen G. White, 1888 Materials, p. 210-211; Looking Back at Minneapolis [Uma Retrospectiva de Minneapolis], escrito em novembro ou dezembro de 1888).
Ellen White viu que a luz estava sendo excluída, mas ela queria que o povo tivesse a oportunidade de recebê-la. Vale lembrar que havia cerca de 28 mil membros nessa época, e as poucas centenas de pessoas em Minneapolis representavam a maior parte da liderança da igreja, mas uma pequena parcela de seus membros:
“Nossa reunião está chegando agora ao fim, e nenhuma confissão foi feita. Não houve nenhuma abertura sequer para a entrada do Espírito de Deus. Fico me perguntando qual a vantagem de nos reunirmos aqui e termos a presença de nossos pastores nessa assembleia se eles estão aqui somente para excluir o Espírito de Deus entre o povo. […] Nunca fiquei tão alarmada quanto estou agora. […] Foi-me permitido compreender aonde nós como povo seríamos levados se recusarmos a luz que Deus gostaria de nos conceder. […] Se os ministros não desejam receber a luz, quero dar uma oportunidade ao povo. Talvez eles a recebam” (1888 Materials, p. 151-152; 24 de outubro de 1888).
Iniciaremos com a obra de Jones em novembro de 1888, logo após Minneapolis, embora muito pudesse ser falado sobre sua atuação antes disso. Quando Ellen White se ausentava de Battle Creek e voltava, era seu costume pregar no Tabernáculo no primeiro sábado após sua chegada. E foi o que aconteceu após as reuniões de Minneapolis. Mas “as impressões” de que ela havia mudado seu ponto de vista sobre a questão da lei “eram tão fortes” que dois ou três anciãos da igreja, os irmãos Amadon e Sisley, e possivelmente Prescott, perguntaram a Ellen White no sábado de manhã o que ela havia planejado falar. Ela percebeu bem a intenção por detrás da pergunta e não somente repreendeu os anciãos, mas pediu que A. T. Jones tivesse a oportunidade de pregar “a mensagem que Deus lhe deu”:
“Irmãos, deixem esse assunto com o Senhor e a irmã White, pois nem Deus nem a irmã White precisarão receber ordens da parte dos irmãos quanto ao assunto que ela apresentará diante deles. Estou em casa em Battle Creek […] e não pedimos permissão para assumir o púlpito no Tabernáculo. Subo até ele cumprindo minha legítima posição a mim concedida por Deus. Mas temos aqui o irmão Jones, que não se sente à vontade como eu, e que só falará se vocês o convidarem. Vocês deveriam cumprir o dever de vocês nesse sentido e dar a ele a oportunidade para pregar.”
“Os anciãos afirmaram que não se sentiam à vontade para convidá-lo para pregar sem antes consultar o irmão Smith para saber se ele aprovaria, já que o pastor Smith era mais velho do que eles. Eu disse: ‘Então façam isso imediatamente, pois o tempo é precioso e há uma mensagem que este povo precisa receber, e o Senhor exige que vocês deixem o caminho desimpedido’” (1888 Materials, p. 355-356).
Depois de quase uma semana sem que Jones recebesse um convite para falar ao povo, Ellen White procurou saber por que os anciãos demoravam em convidá-lo.
“Eu me senti profundamente indignada diante dos persistentes esforços para fechar as portas a qualquer raio de luz celestial. […] Convoquei os anciãos da igreja e lhes perguntei novamente se eles tinham planos de conceder ao pastor Jones uma oportunidade para falar ao povo. A resposta foi: ‘Consultei o irmão Smith e ele decidiu que o melhor seria não o convidar, porque ele tomou fortes posições e levou a extremos a assunto da reforma nacional’” (1888 Materials, p. 241, 356).
“Sisley disse que ele havia consultado o pastor Smith, e ele achava que Jones era um tanto extravagante em sua forma de se expressar e adotava uma posição extrema, e ele dificilmente julgava apropriado lhe permitir falar” (W. C. White, Manuscripts and Memories of Minneapolis [Manuscritos e Memórias de Minneapolis], p. 127).
“Bem, respondi, se esta é a posição do pastor Smith, Deus certamente o removerá do caminho, pois Deus não lhe deu a autoridade para dizer o que deverá ou não deverá ser apresentado no Tabernáculo por meio de pessoas que pertencem ao nosso próprio povo. Mas se ele insiste nessa posição, vamos providenciar um salão na cidade, e as palavras que o irmão Jones recebeu de Deus para falar, o povo terá a oportunidade de ouvir” (1888 Materials, p. 847-848).
A conversa de 15 minutos com os anciãos do Tabernáculo não ficou sem efeito. O irmão Amadon “se mobilizou e providenciou que reuniões fossem realizadas nas noites de sábado e domingo”, o que permitiu que Jones falasse no Tabernáculo. Jones falou sobre liberdade religiosa e “se saiu muito bem”. Vários cidadãos proeminentes estiveram presentes, incluindo o “juiz Graves e E. Nichols”, que ficaram “muito satisfeitos”. As apresentações de Jones foram impressas no Daily Journal de Battle Creek, e “2.300 exemplares do jornal” foram distribuídos (Manuscripts and Memories, p. 127). Em razão do interesse demonstrado, Jones teve a permissão para continuar suas preleções no Tabernáculo. Apesar das críticas depreciativas de líderes da igreja acerca da mensagem de Jones e seu estilo de apresentação, um jornal secular o elogiou nesses dois quesitos. O Daily Journal de Battle Creek fez a seguinte descrição da terceira reunião:
“O auditório numeroso e profundamente atento que frequentou essas reuniões é uma evidência do grande interesse que nossos cidadãos demonstraram pelas palestras ali proferidas e de sua apreciação pela maneira eloquente e habilidosa como o assunto foi apresentado. O Sr. Jones falou mais de duas horas em sua terceira palestra, prendendo a atenção total dos ouvintes do começo ao fim” (Daily Journal, 11 de dezembro de 1888, p. 3).
Como o mundo representa Jones e sua obra em favor da liberdade religiosa? Outros que foram testemunhas oculares da pessoa de Jones e de sua pregação falaram muito positivamente dele e de suas preleções:
“A. T. Jones: homem alto e desajeitado, tendo as características de um homem de fronteira; autodidata, voz de tenor, com um admirável dom da palavra, e extraordinário erudito em história e Bíblia. Como orador público, ninguém havia se igualado a ele na denominação até aquele momento. Podia citar capítulos inteiros de Romanos, Gálatas, Hebreus e Apocalipse de tal maneira que levava os ouvintes a ter uma nova visão da beleza da Bíblia. No final de um sermão, ele citou todas as estrofes do belo hino There’s a Wideness in God’s Mercy [Há uma Imensidão na Misericórdia de Deus]. Foi a declamação mais maravilhosa que já ouvi. O auditório (1.500 pessoas) ficou tão profundamente comovido que, por duas horas, pessoas se levantavam para fazer confissões e se reconsagrar. Não foi uma manifestação de massa, mas individual. Deus falou poderosamente por meio de Jones naqueles dias” (Sanford P. S. Edwards a Emmett K. Vande Vere, 27 de abril de 1956, citado em: Windows [Southern Publishing Association, 1975], p. 209-210).
“Tendo ouvido o pastor Jones pregar muitos sermões ou estudos poderosos e extremamente interessantes sobre justificação pela fé e ouvindo (provavelmente) hoje um sermão ocasional sobre o assunto, você pode entender por que eu creio que, no tempo atual, uma reprodução genuína, poderosa e repleta do Espírito da mensagem da justificação pela fé, a fim de preparar o povo de Deus para o fechamento da porta da graça, seria uma grande bênção para a igreja remanescente” (Meade MacGuire a L. E. Froom, 7 de setembro de 1961).
Além do fato de a pregação de Jones sobre o assunto ter sido muito apreciada por “cidadãos proeminentes”, quando fez preleções no Tabernáculo, ele foi o primeiro adventista a discursar no Senado dos Estados Unidos da América, dando seu testemunho diante da Comissão sobre Educação e Trabalho contra o Projeto de Lei Dominical Blair em 13 de dezembro de 1888. Ali também seus esforços foram muito louváveis. Embora Jones fosse praticamente um autodidata, sem nunca ter tido a oportunidade de estudar em uma escola adventista, sua defesa em favor da liberdade de consciência e da liberdade religiosa perante o Senado foi impressionante. Os argumentos do seu discurso foram semelhantes aos que havia apresentado no Tabernáculo. Contudo, durante os 90 minutos que lhe foram concedidos para falar, ele foi interrompido 169 vezes por uma única pessoa: o senador Blair, o presidente da comissão. O Senhor, porém, deu a Jones as palavras apropriadas, e a legislação foi vetada quando se deu por encerrada a 50ª sessão do Congresso.
O Projeto de Lei Blair foi considerado na Comissão sobre Educação e Trabalho do Senado em 13 de dezembro de 1888. Nessa época, Jones estava lecionando história em Battle Creek. Jones dividiu seus argumentos contra o projeto em três áreas: a primeira relacionada com princípios, a segunda com história e a terceira com temas de natureza prática.
1. Separação entre igreja e Estado com base em Mateus 22:21, que se refere à obrigação a Deus e a César.
2. O governo recebe seu poder a partir do consentimento do povo, segundo o Pacto do Mayflower.
3. A esfera legítima do governo está definida em Romanos 13:1-9. O dever moral do ser humano está descrito nos primeiros quatro mandamentos, ao passo que seu dever civil se encontra nos seis últimos. Nenhuma sociedade tem o direito de invadir o domínio do relacionamento do ser humano com Deus.
4. O Estado deve interferir somente quando a prática religiosa de uma pessoa invade os direitos civis de outros.
5. A Primeira Emenda proíbe o Congresso de envolvimento religioso. O Tratado de 1796 com Trípoli afirma que o governo americano não é fundado, sob hipótese alguma, sobre a fé cristã.
6. Somente meios constitucionais devem ser usados ao se buscar uma legislação. (A ARN conseguiu 7 milhões de votos para sua petição graças à forte influência da assinatura do cardeal James Gibbons).
7. A provisão do sábado se aplica primariamente às necessidades espirituais do ser humano, e não às suas necessidades físicas.
1. A história mostra que um governo instituído por Deus recebe a incumbência de atuar somente na esfera civil.
2. A história mostra as consequências das ações por parte do governo relacionadas com a imposição de leis que definem o domingo como rito sagrado.
3. A história mostra que o resultado de teocracias humanas foram a opressão, a busca pelo poder e o perigoso princípio de que a maioria está sempre certa.
4. A história mostra que não são as instituições da sociedade que devem ser culpadas pelos males reinantes, mas, sim, a falta de consciência individual. É um erro pensar que o reino de Deus virá por meio de processos humanos.
1. Os adventistas não estavam dispostos a aceitar uma cláusula de isenção da lei proposta, pois tal medida teria a implicação de que o poder civil tem o direito de conceder ou negar esse direito.
2. Com base em vários exemplos, ficou demonstrado que leis dominicais estavam sendo aplicadas injustamente.
3. Mesmo segundo as regras de interpretação das leis norte-americanos, o quarto mandamento só poderia ser interpretado como se referindo ao sétimo dia da semana.
Dois dias após sua defesa diante do Senado norte-americano, Jones retorna a Battle Creek para participar, juntamente com Ellen White, de uma semana de oração que deveria ocorrer de 15 a 22 de dezembro. Antes do início da semana de oração, Ellen White deu advertências em mensagens pregadas no Tabernáculo e impressas na Review concernentes à “crise que se aproximava”.
Uma grande crise aguarda o povo de Deus. Muito em breve nossa nação tentará impor sobre todos a observância do primeiro dia da semana como dia sagrado. […] Faz anos que muitos se sentam em calma expectativa desse evento, e esses não estarão cumprindo os propósitos de Deus se eles se tranquilizarem com o pensamento de que o que há de vir virá. […] Se nosso povo continuar nessa atitude indiferente em que se encontra, Deus não poderá derramar sobre eles Seu Espírito. […] A obra especial do terceiro anjo não está sendo vista em sua importância. A intenção de Deus era que Seu povo tivesse avançado muito além do ponto em que se encontram hoje. Mas agora, ao chegar o tempo em que deveriam entrar em ação, ainda precisam fazer a obra de preparação. […] O movimento da Reforma Nacional tem sido considerado por alguns com algo de tão pouca importância que não julgam necessário dar muita atenção ao assunto, e chegam até a pensar que, ao assim proceder, estariam dispensando tempo em questões alheias à mensagem do terceiro anjo. Que o Senhor perdoe nossos irmãos por interpretarem dessa forma a própria mensagem para este tempo. A mensagem do terceiro anjo abrange muito mais do que muitos supõem. Que interpretação é dada à passagem bíblica que diz que um anjo desceu do Céu e a Terra se iluminou com a sua glória? […] As pessoas precisam ser despertadas quanto aos perigos do tempo presente. Os atalaias estão adormecidos. Estamos com anos de atraso. […] Perigos ameaçam agora o povo de Deus; e o que farão? […] Faz anos que estamos esperando que uma lei dominical seja promulgada em nossa nação [uma lei dominical nacional]; e agora que o movimento está bem diante de nós, o que nosso povo vai fazer em relação ao assunto? Vocês não percebem que a noite logo virá e ninguém poderá trabalhar? (Review and Herald Extra, 11 de dezembro de 1888).
O assunto da liberdade religiosa era uma “grande questão” que precisava ser apresentada diante da igreja e do mundo. Essa questão não estava dissociada da mensagem de 1888, mas era, de fato, parte vital dela. A liberdade religiosa era frequentemente apresentada no contexto da justificação pela fé – a mensagem do terceiro anjo em verdade.
“Vocês podem perceber, por meio dessas coisas, que a questão da liberdade religiosa vai muito além de simplesmente falar sobre liberdade religiosa. Isso é tanto verdade, irmãos, que, à parte da terceira mensagem angélica, não há nenhuma liberdade religiosa no mundo neste tempo. E isso será visto com mais clareza à medida que avançarmos. Portanto, se quisermos conhecer os verdadeiros princípios da liberdade religiosa – conhecê-los adequadamente e defendê-los em todos os momentos –, devemos buscá-los na mensagem do terceiro anjo. Devemos recebê-los de Deus da forma como Ele os tem apresentado ao mundo no tempo presente e deixá-los onde devem ficar. Devemos nos manter profundamente conectados com a mensagem do terceiro anjo, e com Deus, que nela está, de maneira que conheçamos por nós mesmos os princípios da liberdade religiosa o tempo todo, cuja procedência é de Deus. Agindo assim, poderemos anunciá-los àqueles que não os conhecem. Ora, há algumas pessoas fora da Igreja Adventista do Sétimo Dia que compreendem os princípios da liberdade religiosa até onde lhes é possível conhecer, mas não os entendem o suficiente. E é o propósito da terceira mensagem angélica apresentar diante do mundo e de todos seus moradores os verdadeiros princípios da liberdade religiosa. Então, nossa missão, como já disse, deve ser a de receber esses princípios emanados da terceira mensagem angélica, ou seja, de Deus. É ali que se encontra a fonte de todo nosso conhecimento sobre esse assunto. Não é assim? Nós que estamos hoje aqui, de onde extraímos nossos conceitos sobre liberdade religiosa? A verdade é que, não fosse pela terceira mensagem angélica, cada um de nós estaria a favor da legislação religiosa – cada um de nós, pois somos o tipo de pessoas que, sem a bênção e a influência do Espírito de Deus, estaríamos unidos nessa obra” (A. T. Jones, 1891, General Conference Daily Bulletin, p. 105).
Vamos apresentar outros trechos de artigos de Ellen G. White publicados pouco antes da semana de oração em Battle Creek e no decorrer dela:
“Uma grande crise aguarda o povo de Deus. Uma crise vai envolver o mundo. A mais terrível luta de todos os séculos está justamente à nossa frente. Acontecimentos que, há mais de 40 anos, baseados na autoridade da palavra profética, declarávamos ser iminentes desenrolam-se agora perante nossos olhos. Já os legisladores da nação foram instados a emendarem a Constituição, restringindo a liberdade de consciência. A questão de impor a observância do domingo tornou-se de interesse e importância nacionais. Bem sabemos qual será o resultado desse movimento. Mas estaremos prontos para o acontecimento? Temo-nos desincumbido fielmente do dever que Deus nos confiou, de dar ao povo a advertência quanto ao perigo que tem pela frente? […]”
“O movimento de Reforma Nacional, exercendo o poder da legislação religiosa, manifestará, quando plenamente desenvolvido, a mesma intolerância e opressão que prevaleceram nos séculos passados. […]”
“Se os dirigentes de nossas Associações não aceitarem agora a mensagem que Deus lhes envia, e não cerrarem fileiras para a ação, as igrejas sofrerão grande perda. Quando o vigia, vendo vir a espada, dá à trombeta um sonido certo, o povo engajado ecoa a advertência, e todos terão a oportunidade de preparar-se para o conflito. Mas demasiadas vezes o líder fica hesitando, como que dizendo: ‘Não nos apressemos demais. Pode haver engano. Devemos ter cuidado para não levantar alarme falso’. A própria hesitação e incerteza de sua parte como que estão a dizer: ‘Paz e segurança!’ Sem muita exaltação. Nada de alarme. Tem-se falado mais dessa questão da emenda religiosa do que ela merece. Essa agitação toda passará’. Assim ele, para todos os efeitos, nega a mensagem enviada por Deus, e a advertência que se destina a despertar as igrejas deixa de realizar sua obra. A trombeta do vigia não dá sonido certo, e o povo não se prepara para a batalha” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 711-716; também em Review and Herald, 11 de dezembro de 1888).
Ellen White falou também do tratamento desfavorável que o American Sentinel estava recebendo. Tanto Jones quanto Waggoner eram editores associados do American Sentinel, a revista de liberdade religiosa da igreja, iniciada alguns anos antes. Por meio das páginas desse periódico, eles haviam se esforçado muito para advertir o povo do conflito vindouro. Contudo, muitos não estavam tirando proveito desse recurso, enquanto outros estavam de fato lutando contra ele:
“Já faz três anos que advertências estão sendo proclamadas ao mundo por meio das colunas do Sentinel e de outras publicações, mas esses sinais de perigo não têm exercido influência sobre nosso povo com deveriam. A intenção de Deus é que Seu povo dê ouvidos a tudo aquilo que Ele lhe envia. Tivessem aqueles que afirmam crer na verdade usado o Sentinel, como era seu privilégio fazer, e se unido na obra de recomendá-lo e de erguer a voz para dar à trombeta o sonido certo em cada Associação e em cada igreja, como era da vontade de Deus que fizessem; tivesse a atenção de nosso povo sido chamada para essa obra, cuja realização era tão essencial para este tempo; tivessem eles dado valor à luz que Deus permitiu brilhar sobre eles em advertências, conselhos e descrição de fatos a ocorrer em nosso mundo, não estaríamos agora, como povo, tão atrasados em fazer preparativos para a obra. A reprovação de Deus está sobre nós por causa de nossa negligência de responsabilidades solenes. Não se tem dado atenção aos testemunhos por parte daqueles que professam crer neles; e, como resultado, Suas bênçãos foram retiradas. Quando Satanás passa a ter controle da mente, as palavras de advertência não têm efeito algum.”
“Muito poderia ter sido feito com o Sentinel se influências contrárias não tivessem entrado em operação para estorvar seu caminho. Embora nada seja dito contra ele, as ações revelam a indiferença com que tem sido tratado. Quando a luz é apresentada ao povo de Deus, é seu dever não apenas recebê-la, mas passá-la adiante, colocando sua influência em favor dela, a fim de que sua plena força seja sentida na igreja e no mundo. O Sentinel é como uma trombeta dando um sonido certo; e todo nosso povo deveria lê-lo com cuidado e então enviá-lo a algum parente ou amigo, dessa forma fazendo o melhor uso da luz que Deus lhes deu.”
“Tem havido indiferença e inatividade surpreendentes neste tempo de perigo. A verdade, a verdade presente, é o que as pessoas precisam; e se os alarmantes eventos que estão ocorrendo em nosso país atualmente, relacionados com a emenda religiosa, tivessem sido compreendidos por nosso povo em cada igreja; tivessem os membros percebido o claro e evidente cumprimento da profecia e se despertado para as exigências da crise, não estariam eles agora em tal torpor e sono mortal. Mas a menos que os vigias deem à trombeta o sonido certo, as pessoas não são prevenidas e não ficam atentas ao perigo.”
“Deus emprega agentes diversos para preparar Seu povo para resistir à grande crise. Ele fala por meio de Sua palavra e de Seus ministros. Ele desperta os vigias e os envia com mensagens de advertência, de reprovação e de instrução, para que o povo seja esclarecido. No plano de Deus, o Sentinel tem sido uma das vozes a soar o alarme para que o povo ouça e reconheça o perigo e realize a obra necessária para este tempo. Quem dera tivéssemos um reavivamento espiritual! Os anjos de Deus estão indo de igreja em igreja cumprindo seu dever; e Jesus Cristo está batendo na porta do coração de vocês, pedindo entrada. Mas os meios planejados por Deus para despertar a igreja para o senso de sua destituição espiritual têm sido desconsiderados. Tem-se ouvido a voz da Testemunha Verdadeira com palavras de reprovação, mas a ela não se tem obedecido. Homens escolheram seguir seu próprio caminho em vez do caminho de Deus, porque o eu não foi crucificado neles. Assim, a luz produziu muito pouco efeito sobre o coração e a mente. ‘Sê, pois, zeloso, e arrepende-te.’”
“Será que o povo de Deus despertará agora de sua letargia carnal? Será que se beneficiará ao máximo das bênçãos e advertências atuais e não deixará que nada se interponha entre a alma e a luz que Deus deseja que brilhe sobre eles? Que cada obreiro de Deus compreenda a situação e disponibilize o Sentinel para nossas igrejas, explicando seus conteúdos e ressaltando zelosamente as advertências e fatos que ele contém. Que o Senhor ajude a todos a remir o tempo. Que sentimentos não santificados não levem ninguém a resistir aos apelos do Espírito de Deus.”
“A Palavra de Deus não está em silêncio no que diz respeito a este tempo solene, o qual será compreendido por todos aqueles que não fazem parte do grupo que resiste ao Seu Espírito e está determinado a não ouvir, não receber e não obedecer. As mensagens de luz do Senhor estão diante de nós há anos, mas tem havido influências operando indiretamente para tornar de nenhum efeito as advertências que nos estão chegando por meio do Sentinel, dos ‘Testemunhos’ e de outros instrumentos que o Senhor envia a Seu povo. Não obstruam o caminho dessa luz. Que ela não seja desconsiderada ou colocada de lado como indigna de atenção ou crédito.
“Se vocês esperarem que a luz venha de um modo que agrade a todos, vocês esperarão em vão. Se esperarem por chamados mais estrondosos ou melhores oportunidades, a luz será retirada, e vocês serão deixados em trevas. Apeguem-se a cada raio de luz que Deus envia. Aqueles que negligenciarem dar ouvidos aos apelos do Espírito e da palavra de Deus, pelo fato de a obediência envolver uma cruz, perderão a alma. Eles verão, quando os livros forem abertos e a obra de todo homem, bem como os motivos que o impulsionaram, for examinada pelo Juiz de toda a Terra, quantas perdas experimentaram. Deveríamos ter em alta conta o temor do Senhor, e nenhum pensamento, nenhuma palavra, nenhuma ação em conexão com a obra de Deus deve ter qualquer cheiro de egoísmo ou indiferença” (Review and Herald, 18 de dezembro de 1888).
Como resultado dos artigos e sermões de Ellen G. White, bem como da obra de A. T. Jones e outros, um reavivamento se iniciou em Battle Creek:
“Obra de Reavivamento na Igreja de Battle Creek. Os serviços de reavivamento realizados durante a semana de oração e a partir dessa época realizaram uma boa obra na igreja de Battle Creek. Os pastores A. T. Jones, J. O. Corliss e outros desempenharam parte ativa na condução das reuniões. O tema principal tratado foi a justificação pela fé, e essa verdade veio como alimento na estação certa para o povo de Deus. Os oráculos vivos de Deus foram apresentados em luz nova e preciosa. O Espírito Santo, operando por meio de agentes humanos, revelou a profunda importância de verdades, há muito conhecidas, relacionadas com os novos e surpreendentes movimentos ligados ao progresso do Emenda Religiosa da Constituição. Isso fez com que as reuniões despertassem interesse acima do normal, visto que a aplicação da profecia era claramente feita para nosso próprio tempo. O Senhor operou juntamente com os esforços de Seus servos e trouxe eficiência a Sua obra. […]. Reuniões extremamente interessantes foram realizadas no Colégio. O Espírito do Senhor operou nos corações, e realizou-se preciosa obra de conversão de almas. Não se percebeu ou se manifestou nenhum tipo de sensacionalismo” (Review and Herald, 12 de fevereiro de 1889).
Ao contrário de muitas descrições modernas a respeito de A. T. Jones, um dos participantes da semana de oração o descreveu da seguinte forma:
“O irmão A. T. Jones tem pregado a maior parte dos sermões. Eu gostaria que você pudesse ter assistido a algumas de suas mensagens. […] Alguns dos seus sermões, penso eu, são os melhores que já ouvi. Todos são novos também. Ele é original na sua forma de pregar e apresenta mensagens práticas com voz muito meiga, demonstrando profundo sentimento em tudo o que diz” (Dan T. Jones a J. W. Watt, 1º de janeiro de 1889).
Seria maravilhoso se pudéssemos encerrar este capítulo por aqui. A história, contudo, não nos permite proceder assim. Embora muitas pessoas em Battle Creek estivessem recebendo as bênçãos dos Céus, a oposição ainda era muito intensa. Ellen White se alegrava pelo fato de que “finalmente se abrira uma oportunidade para o irmão Jones, mas não era agradável lutar por cada centímetro de privilégios e vantagens para que ele conseguisse apresentar a verdade diante do povo”.
“Luz e verdade preciosas foram apresentadas diante do povo, mas os corações que se encontravam empedernidos não receberam nenhuma benção. Não se alegravam na luz que, tivesse sido aceita, teria trazido liberdade, paz, força, coragem e alegria para a alma. […] Que nome se pode dar a esse comportamento? Rebelião, como a que houve nos dias de Israel. […]”
“O Senhor operou em nosso meio, mas alguns não receberam a bênção. Tiveram o privilégio de ouvir a mais fiel pregação do evangelho, e escutaram com o coração fechado a cadeado a mensagem que Deus havia encarregado Seus servos de lhes transmitir. Eles não se voltaram ao Senhor […], mas usaram toda a habilidade que tinham para apontar alguns defeitos nos mensageiros e na mensagem, e ofenderam o Espírito de Deus. […]”
“Um ai é pronunciado sobre toda essa incredulidade e crítica conforme manifestada em Minneapolis e em Battle Creek. […] As contínuas evidências de que Deus estava operando não foram suficientes para mudar a visível atitude daqueles que desde o início seguiram uma trajetória de incredulidade que representou uma ofensa a Deus. Tendo construído eles próprios essa barreira, estavam, como os judeus, à procura de algo para dar força a sua incredulidade e fazer parecer que estavam certos. […]”
“Fiquem fora do caminho, irmãos. Não se coloquem entre Deus e Sua obra. Se vocês próprios não sentem nenhuma responsabilidade pela mensagem, liberem então o caminho para aqueles que sentem essa responsabilidade. […]”
“Satanás está em intensa atividade para fazer com que sejam enganados os que creem em verdade presente […], para levar os que aceitaram uma verdade impopular, que receberam grande luz e grandes privilégios, a adotar o espírito que dominará o mundo. Mesmo que tal espírito se manifeste em grau menor, ele nem por isso deixa de ser o mesmo princípio que, uma vez exercendo seu poder controlador sobre as mentes, conduz a determinados resultados. […] O resultado é o mesmo a que os judeus chegaram: fatal dureza de coração” (1888 Materials, p. 352-381).
Houve uma sequência de reuniões durante o inverno, primavera e verão de 1889, com a presença de Ellen White, Jones e Waggoner. Os resultados foram os mesmos. Houve reavivamento no coração de muitos, que Ellen White comparou com o despertamento de 1844, mas ao mesmo tempo a oposição se fortaleceu. Reuniões foram realizadas em South Lancaster (Nova York), Chicago (Illinois), Ottawa (Kansas), Williamsport (Pensilvânia) e Rome (Nova York). A. T. Jones resumiu assim as reuniões desse verão e a reação a elas:
“Quando chegou então o período das reuniões campais, nós três visitamos as campais apresentando a mensagem da justificação pela fé e da liberdade religiosa – e às vezes nós três [Jones, Waggoner e Ellen White] participávamos da mesma reunião. As pessoas tomavam novo rumo e, aparentemente, a maioria dos líderes. Estes, porém, só na aparência: nunca era real, pois o tempo todo durante a Comissão da Associação Geral, e em contato com outros, havia um antagonismo secreto sempre em atividade” (A. T. Jones a C. E. Holmes, 12 de maio de 1921. In: Manuscript and Memories, p. 329).
Em 1987 a Associação Geral criou uma Comissão de Liberdade Religiosa para ajudar a conduzir essa importante obra e elegeu A. T. Jones como presidente. Com o aumento de legislações que procuravam impor leis dominicais, tornou-se urgente a necessidade de estender ao público em geral a questão da liberdade religiosa. Em julho de 1889, a Associação Geral organizou a Associação Nacional de Liberdade Religiosa (ANLR) [National Religious Liberty Association (NRLA)], que substituiu a Comissão de Liberdade Religiosa. O capitão Eldridge foi eleito presidente, no lugar de A. T. Jones, e Dan Jones, vice-presidente. O American Sentinel, embora não estivesse oficialmente ligado à ANLR, era o periódico oficial da igreja sobre liberdade religiosa. Havia uma tentativa por parte de muitos da ANLR de ter mais controle sobre o Sentinel.
Na assembleia da Associação Geral de 1889, a recém-formada ANLR aprovou estatutos que iriam tentar impedir ainda mais a obra do Sentinel. Dan Jones e o capitão Eldridge procuravam ter o completo controle sobre o conteúdo do periódico (General Conference Daily Bulletin, 5 de novembro de 1889, p. 148).
Apesar do grande sucesso do trabalho de A. T. Jones em prol da liberdade religiosa, chegando a falar duas vezes diante do Senado americano contra o Projeto de Lei Blair, Dan Jones e muitos outros não apreciavam o que julgavam ser “posições exageradas”. Esse espírito de oposição chegou ao auge no início de 1890, por volta da mesma época em que a mais recente legislação dominical foi apresentada ao Congresso. Dan Jones deu o seguinte conselho a um ministro a respeito de um Instituto Bíblico que logo seria realizado:
“Penso que um Instituto em Missouri seria algo esplêndido; mas creio que, se for realizado com discrição, o benefício que vocês terão será o mesmo que teriam se fizessem grande publicidade do evento com a presença dos heróis contrários à Reforma Nacional, como os irmãos A. T. Jones e E. J. Waggoner. Para lhe dizer a verdade, não confio muito em alguns dos seus métodos de apresentar as coisas. Eles procuram monopolizar a verdade sobre tudo e não admitem a possibilidade de que a posição deles seja criticada no mínimo sentido. […] Mas nossos irmãos mais ponderados – o irmão Smith, o irmão Littlejohn, o irmão Corliss, o irmão Gage e outros – não concordam com eles a respeito de muitas posições que eles tomam sobre a Reforma Nacional e sobre algumas questões teológicas, como as alianças, a lei em Gálatas, etc. […] Eu presumo que você não deseja trazer esse espírito para a Associação do Missouri. Se vocês convidarem o irmão Gates e o irmão Fansworth […], isso seria mais válido do que alguma teoria pretensiosa e pomposa que nunca funcionou e nunca funcionará em lugar nenhum” (Dan T. Jones a A. W. Allee, 23 de janeiro de 1890, arquivos da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia).
No início de 1890, foi decidido transferir a publicação do Sentinel para a filial da Pacific Press na cidade de Nova York. Isso permitiria que o periódico ficasse mais próximo do centro da obra em prol da liberdade religiosa e do lugar em que A. T. Jones poderia supervisionar mais de perto sua produção. Quando C. P. Bollman, gerente editorial local do Sentinel, saiu de São Francisco em direção a Nova York, passou alguns dias em Battle Creek. Ele desejava conversar com o capitão Eldridge, presidente da ANLR, sobre “qual deveria ser a posição do Sentinel em relação à Associação Nacional de Liberdade Religiosa”. Na ausência de Eldridge, o vice-presidente Dan Jones respondeu à indagação de Bollman:
“Eu conversei honestamente com ele sobre o Sentinel e suas posições exageradas e comentários desnecessários e deselegantes; disse-lhe francamente que não colocava também fé no periódico. […] Então o irmão Jones, W. C. White e alguns outros foram chamados, e nós discutimos o assunto novamente e expressei meus pontos de vista sobre o Sentinel; disse-lhes que, sem alguma mudança no teor da revista, eu me oporia a que ela estivesse ligada, no mínimo que fosse, com a Associação Nacional de Liberdade Religiosa. […] Creio que posso ver com muita clareza que a conversa teve alguma influência sobre o periódico, e que se pode constatar melhoras, apesar de ainda haver espaço para mais melhoras. Por meio de correspondência particular, estamos ainda trabalhando com eles com o objetivo de melhorar ainda mais a revista. Alguns dos seus pretensos raciocínios lógicos excessivamente minuciosas são ridículos e não deveriam constar nesse tipo de periódico” (Dan T. Jones a J. H. Morrison, 17 de março de 1890, arquivos da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia).
Ellen White, que estava em Battle Creek na época, não disse nada a respeito do Sentinel. Todavia, falou, sim, com aqueles que estavam trabalhando contra Jones e Waggoner numa fala matinal em 4 de fevereiro.
“Não fiquem à cata de toda e qualquer objeção, por menor que seja; não a ampliem o máximo possível para guardá-la para uso futuro. Ninguém afirmou que encontraremos perfeição em qualquer investigação humana, mas de uma coisa eu sei: nossas igrejas estão morrendo pela falta do ensino sobre o tema da justificação pela fé em Cristo e verdades afins” (1888 Materials, p. 548).
Em uma mensagem apresentada aos ministros um mês depois, Ellen White tinha mais a dizer sobre o assunto:
“Se nos colocarmos numa posição que nos impeça de reconhecer a luz ou as mensagens que Deus nos envia, estamos então em perigo de pecar contra o Espírito Santo. Corremos então o risco de ficar tentando encontrar pequenas coisas e fazer delas ganchos para pendurar nossas dúvidas e começar a questionar! A questão é: enviou Deus a verdade? Suscitou Deus esses homens para proclamar a verdade? Eu digo que sim. Deus enviou homens para nos trazer a verdade que não teríamos recebido a menos que Deus tivesse enviado alguém para trazê-la a nós. Deus me permitiu ter uma luz de quem é Seu Espírito; portanto, eu a aceito e não mais ouso levantar minha mão contra essas pessoas, pois seria o mesmo que fazê-lo contra Jesus Cristo, que deve ser reconhecido em Seus mensageiros.”
“Quero agora que cada um de vocês tome cuidado quanto à posição que vão tomar, e se vão permitir que as nuvens da incredulidade os envolvam porque vocês encontram imperfeição. Vocês observam uma palavra ou um pequeno ponto que pode ser apresentado, e vocês os julgam por causa disso. Vocês precisam ver o que Deus está fazendo na vida deles. Vocês precisam ver se Deus está operando por meio deles, e então reconhecer o Espírito de Deus que Se revela a eles. E se vocês escolherem resistir-Lhe, vocês estarão agindo como os judeus” (1888 Materials, p. 608-609).
Em 6 de janeiro de 1890, o deputado W. C. Breckenridge de Kentucky apresentou um projeto de lei cuja intenção era “impedir que alguém fosse obrigado a trabalhar no domingo” dentro do Distrito de Colúmbia. Os adventistas do sétimo dia entenderam que o projeto era enganoso, visto que ninguém estava sendo compelido a trabalhar no domingo. O verdadeiro propósito desse projeto de lei era forçar as pessoas a descansar no domingo. Essa proposta pareceu ser um primeiro passo do processo de legislação religiosa que conduziria a plenas leis dominicais. Finalmente, em 18 de fevereiro de 1890, foi realizada uma audiência diante da Comissão da Câmara dos Deputados do Distrito de Colúmbia em favor do Projeto de Lei Breckenridge. A. T. Jones, com outros dois adventistas do sétimo dia, compareceu diante da Comissão e falou contra o projeto. Jones não somente argumentou muito convincentemente contra a constitucionalidade do projeto de lei, com também usou argumentos de um dos próprios livros do reverendo Crafts para provar que não havia necessidade daquela legislação. “Depois da audiência, membros da Comissão do Congresso cumprimentaram” A. T. Jones e os outros “representantes [adventistas], […] e os parabenizaram pela consistência da posição deles, ao passo que os defensores do projeto de lei dominical ‘saíram às escondidas’”. A Comissão da Câmara aparentemente se convenceu de que a medida era religiosa e uma violação da Primeira Emenda, e o Projeto de Lei Breckenridge foi derrotado (Eric Syme, A History of SDA Church-state Relations, p. 34-36). Ao retornar a Battle Creek depois das audiências, A. T. Jones fez um devocional na reunião ministerial na manhã do dia 20 de março de 1890. O. A. Olsen relatou que era “muito fascinante notar como a providência de Deus havia ido adiante de nós”. O Senhor havia “dirigido os eventos” de tal modo que certas pessoas estavam no lugar certo, na hora certa, e “tudo se encaixou de maneira tão exata e apropriada” que era evidente que Ele estava no comando:
“O irmão Jones afirmou também que nunca tinha percebido a bênção de Deus de maneira tão abundante quanto no momento em que falava diante da Comissão da Câmara durante a última audiência. Ele disse que parecia que as frases que deveria falar estavam escritas na parede, ou suspensas no ar a sua frente; e não foram somente eles que sentiram que a bênção de Deus pairava ali, mas todos os que estavam presentes puderam reconhecer que o poder de Deus estava lá de maneira extremamente notável. Todas essas coisas são indicações encorajadoras” (O. A. Olsen a G. C. Tenny, 20 de março de 1890).
Allen Mood fala de outro momento em que a obra do Sentinel e de outros periódicos sobre liberdade religiosa contribuiu para frustrar a promulgação de uma lei dominical:
“Alguns anos atrás, muitas pessoas tinham como propósito assegurar a promulgação de uma lei dominical. Iniciamos o trabalho de esclarecimento no Congresso dos Estados Unidos por meio do envio do American Sentinel a todos os seus membros. O Senhor operou em nosso favor. Talvez não seja do conhecimento do público em geral, mas os mensageiros encarregados da correspondência dos membros do Congresso destroem cada ano toneladas do chamam de ‘correspondência excêntrica’. Quase todos que publicam algum periódico, especialmente se for de natureza religiosa, enviam esse material aos membros do Congresso. Há uma comissão que supervisiona essas publicações; se constatam que não são adequadas, elas são condenadas como ‘assunto excêntrico’, e os mensageiros recebem a ordem de destruí-las. Eu introduzi o Sentinel, creio que em 1892, pela primeira vez no Congresso. Um membro me apresentou a um mensageiro, que analisou o periódico e o recomendou que fosse entregue. Fui informado de que não há um membro sequer do Congresso, quer seja da Câmara dos Deputados ou do Senado, que não tenha recebido o Sentinel em sua casa. Isso, me parece, revela o fato de que Deus está nessa obra. Tenho, em meus arquivos, centenas de cartas de membros do Congresso expressando sua apreciação pelas ideias apresentadas em nossas publicações. Há homens que chegam ao Congresso com o compromisso de defender o que é conhecido como pontos de vista sobre a ‘reforma nacional’, e no final acabam mudando completamente de ideia sobre o assunto.”
“Mas antes de ser iniciada qualquer obra de esclarecimento, o Congresso por pouco não aprovou uma lei dominical. Na verdade, ela chegou a ser aprovada pela Câmara dos Deputados [HR (House Resolution – Resolução da Câmara) 8367, 25 de abril de 1892] e foi enviada ao Senado; foi encaminhada à comissão, cujo presidente era o senador de Michigan [McMillian]. Sua comissão recomendou que a lei fosse aprovada. Foi feito o agendamento, e, nesse meio tempo, seguimos com persistência nossa obra, enviando literaturas para cada membro do Senado, algumas delas lidando diretamente com a questão da legislação religiosa. O pastor Jones preparou uma petição, que foi impressa na forma de uma carta e enviada a cada membro. Em um ou dois dias, recebi uma carta de um membro do Senado, que dizia: ‘Se eu viver até o fim do ciclo anual de sessões do Congresso, eu vou derrotar esse projeto de lei’. E ele de fato o fez. Ele viveu até o final das sessões, e cada vez que chegava o dia programado para a discussão da lei, ele se levantava e se dirigia ao Senado com estas palavras: ‘Sr. presidente, eu me oponho à consideração desse projeto de lei hoje’. O projeto era então transferido para o último lugar da agenda. Ele vigiou durante todo o ciclo de sessões para que o projeto não constasse na ordem do dia. Por pouco o Congresso dos Estados Unidos não aprovou uma lei dominical” (General Conference Daily Bulletin, 22 de abril de 1901, p. 381).
Em 3 de novembro de 1890, “reuniu-se no Tabernáculo de Battle Creek a segunda assembleia anual da Associação Nacional de Liberdade Religiosa, […] às 5 horas da tarde, tendo C. Eldridge como presidente” (uma segunda reunião ocorreria em 7 de dezembro). Vinte e seis membros da comissão ouviam o relatório do secretário W. H. McKee sobre os trabalhos da Associação durante o corrente ano. Foi apresentada uma descrição detalhada de todos os acontecimentos e ações empreendidas: a oposição ao Projeto de Lei Breckenridge, a influência do reverendo Crafts, a defesa do Sr. King do Tennessee e a circulação de petições contra a legislação dominical. O relatório incluía uma descrição de todo material divulgado pela ANLR durante aquele ano: mais de 4 milhões de páginas de folhetos e panfletos, 10 mil manuais, 30 mil folhas de abaixo-assinados e outros materiais variados. Uma leitura detida do relatório revela que, ao contrário das 30 mil cópias do American Sentinel distribuídas em dezembro de 1889, somente 10 mil cópias circularam no ano seguinte. O relatório informa também sobre uma ocorrência em que a ANLR não teve “tempo de encomendar uma edição do American Sentinel”, de modo que “prepararam” sua própria revista para distribuir.
Quando novos líderes foram votados para o ano seguinte. A. T. Jones foi removido da Comissão Executiva, ao passo que C. Eldridge, Dan Jones, W. A. Colcord e A. F. Ballenger foram todos reeleitos. Tanto A. T. Jones quanto E. J. Waggoner continuaram na Comissão Editorial. Contudo, aprovaram-se resoluções que limitariam a possibilidade de darem qualquer contribuição. A Associação votou também que “por meio de sua Comissão Executiva”, na qual A. T. Jones não mais atuava, e não por meio de sua Comissão Editorial, da qual tanto A. T. Jones e E. J. Waggoner faziam parte, o American Sentinel deveria “ser suprido cada semana de matéria interessante e bem editada que preenchesse três colunas desse periódico”. Outra resolução afirmava “que a distribuição de literatura pela Associação fosse feita por intermédio da Sociedade Internacional de Tratados, e que a [ANLR] mantivesse a sociedade [de tratados] abastecida de quantidades suficientes dessa literatura”. Embora o American Sentinel fizesse parte dessa literatura, a Associação votou que “os projetos para o trabalho local da ANLR fossem publicados na seção de Liberdade Religiosa do Home Missionary”, um periódico publicado em Battle Creek. Fica claro que a Associação estava sistematicamente procurando controlar o Sentinel ou descartá-lo aos poucos como seu “órgão” de liberdade religiosa. Por meio de outra resolução, que refletia os planos para o ano seguinte, a Associação votou que seus membros “se afiliassem a […] outras associações cristãs [não adventistas do sétimo dia], participando da distribuição de literatura, mantendo reuniões mensais e contribuindo com todos os seus esforços em prol da liberdade religiosa”. Embora o relatório dessas reuniões na Review não mencione explicitamente, o fato é que havia entre muitos membros da ANLR a preocupação de que o Sentinel estava fazendo com que a Associação perdesse o apoio de não adventistas devido a seus artigos diretos sobre o sábado e a segunda vinda e sua afiliação declarada com a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Eles achavam que, se pudessem apresentar as ideias sobre liberdade religiosa sem as verdades adventistas distintivas, poderiam alcançar um público muito mais amplo e ganhar o apoio de pessoas não cristãs, às quais poderiam se unir nessa obra (Review and Herald, 16 de dezembro de 1890, p. 779-781).
Em 8 de outubro de 1890, Ellen White partiu de Battle Creek com W. C. White e sua secretária-enfermeira, Sara McEnterfer, para uma viagem de quase três meses pelos Estados do leste. O cronograma de Ellen White envolvia sua participação em importantes reuniões na Associação da Nova Inglaterra, Associação do Atlântico, Associação da Virgínia e no Estado da Pensilvânia. Depois de várias semanas de trabalho, Ellen White chegou a Salamanca, Nova York, na quinta-feira à noite, dia 31 de outubro, com forte resfriado decorrente de suas viagens no clima um tanto frio da região nordeste. No final daquela semana, ela se encontrava tão enferma e exausta que mal conseguia ouvir a si mesma. Sara McEnterfer insistiu com ela para que retornasse para casa em Battle Creek e recebesse tratamentos no Sanatório. Depois de uma árdua e longa segunda-feira de trabalho, dia 3 de novembro, Ellen White retornou ao quarto em que se hospedava, cansada e perplexa. Desejava descansar, orar e decidir se deveria continuar com seus compromissos agendados ou voltar para Battle Creek. Ellen White descreve o que aconteceu em seguida quando se ajoelhou ao lado da cama ali em Salamanca, Nova York:
“Antes que a primeira palavra de oração fosse proferida, ela sentiu que o quarto estava inundado da fragrância de rosas. Ao levantar a cabeça para ver de onde vinha a fragrância, percebeu que o quarto estava banhado por uma luz suave e prateada. Instantaneamente, sua dor e cansaço desapareceram. A perplexidade e o desânimo desvaneceram, e esperança, conforto e paz encheram-lhe o coração. Perdendo, então, toda consciência a respeito do que estava à volta, foram-lhe reveladas em visão muitas coisas relacionadas com o progresso da causa em diferentes partes do mundo e as condições que ajudavam ou estorvavam a obra. Entre as muitas cenas que viu, havia muitas que mostravam as condições existentes em Battle Creek. Tudo passou diante dela de maneira completa e impressiva” (Life Sketches, p. 310)
Na terça-feira de manhã, 4 de novembro, quando W. C. White e A. T. Robinson foram até o quarto de Ellen White para saber o que ela havia decidido fazer, eles a encontraram vestida e bem-disposta. Ela lhes contou a experiência que tivera na noite anterior e a alegria e paz que sentiu durante a noite. Ela não tinha conseguido dormir, não por causa de alguma doença, mas devido à alegria e contentamento que inundavam seu coração. Ela estava pronta para continuar seu trabalho no leste. Ellen White disse então a seu filho e a A. T. Robinson que ela queria lhes contar o que lhe havia sido revelado durante a noite: “Na visão, parecia que eu estava em Battle Creek, e o anjo mensageiro me ordenou: ‘Siga-me’”. Ela então hesitou, pois a cena havia desaparecido de sua mente e não conseguia lembrá-la. Depois de fazer algumas visitas com seu filho e A. T. Robinson, Ellen White tentou novamente lhes contar o que lhe havia sido revelado com relação à obra em Battle Creek, mas, como antes, não conseguia lembrar (A. L. White. In: T. H. Jemison, A Prophet Among You, p. 474).
Na entrada de seu diário referente ao dia 4 de novembro, Ellen White escreveu algumas poucas palavras: “Eu ansiava estar onde pudesse colocar por escrito as coisas que me foram reveladas na noite passada. Foi o Senhor […]” (Manuscrito 44). A sentença ficou incompleta. Talvez tivesse a intenção de terminá-la em outro momento. Algumas semanas depois, ela recebeu novamente a visita de um mensageiro celestial e foi levada a ver o que estava ocorrendo em Battle Creek. O que não lhe foi possível contar aos outros pessoalmente, ela conseguiu escrever em seu diário:
“Tenho estado em comunhão com Deus durante a noite. Meu guia me conduziu até as reuniões realizadas em Battle Creek. Tenho uma mensagem para lhes transmitir, quer vocês a ouçam ou não, quer vocês a aceitem ou a rejeitem. As pessoas precisam tomar consciência de que não estão procedendo de acordo com o plano de Deus. Elas deixaram Cristo fora de suas reuniões. Homens em posição de liderança estão dando um molde à obra que terá como resultado a perda de muitas almas. […] Muitos chegam aqui de terras estrangeiras pensando que Battle Creek, de onde partem as publicações da verdade, está a um passo do Céu. Como ficam desapontados quando ouvem a mensagem de Deus sendo tratada levianamente nesse lugar, quando ouvem os mensageiros de Deus sendo ridicularizados por alguns em posições de responsabilidade” (Manuscrito 6, 25 de novembro de 1890).
Nove dias depois, e antes que o relatório da assembleia anual da ANLR fosse publicado na Review, Ellen White novamente escreveu em seu diário mais detalhes sobre o que lhe havia sido mostrado em visão: o povo do mundo estava tentando induzir os adventistas a suavizar sua mensagem e a suprimir dela uma de suas características mais distintivas. Novamente, faltando apenas alguns dias para Ellen White retornar a Battle Creek, ela escreveu as seguintes palavras em seu diário:
“Minha mente tem estado em penosa atividade durante a noite. Eu me encontrava numa reunião em Battle Creek e ali ouvi muitas sugestões sendo apresentadas e vi a manifestação de um espírito que não era de Deus. Presenciei uma tempestade de palavras. Como meu coração doeu” (Manuscrito 53, 25 de dezembro de 1890).
Ao retornar a Battle Creek, em 30 de dezembro de1890, logo Ellen White se viu envolvida com as últimas semanas do Instituto Ministerial. Foi em algum momento após sua chegada a Battle Creek que ela completou a entrada de seu diário referente ao dia 21 de novembro de 1890. Ellen White havia observado mais de uma reunião sendo realizada. Ela disse que estava “presente em várias”. Após a leitura de seu diário, fica claro que mais coisas haviam acontecido durante a reunião anual da ANLR do que havia sido relatado na Review. Alguns dias depois, Ellen White acrescentou em seu diário comentários adicionais sobre o que lhe havia sido mostrado:
“Eu estava em Battle Creek, e em determinada reunião havia ministros e responsáveis pelo escritório da Review. Presenciei a exposição de opiniões que me deixaram muito surpresa, apreensiva e angustiada; e com espírito destituído de qualquer gentileza, insistia-se que fossem adotadas. […] Eles estavam dispostos a adotar planos que pareciam sábios, mas Satanás era o instigador dessas medidas” (Manuscrito 44, 4 de novembro de 1890).
Março de 1891: A 29º assembleia da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia reuniu-se no Tabernáculo de Battle Creek, Michigan, no dia 5 de março de 1891, às 10h da manhã. Estavam presentes 102 delegados representando 29 Associações e quatro campos missionários. Quando a assembleia foi declarada aberta, solicitou-se a Ellen White que falasse aos obreiros cada manhã da semana às 5h30. Ela estava também escalada para falar no primeiro sábado, 7 de março, durante o culto da tarde que teria início às 14h30. Quando Ellen White se colocou diante de 4 mil pessoas, representando o grupo de crentes adventistas cooperadores dela na causa, seu coração ficou tocado pela solenidade do momento. Tudo o que lhe havia causado profunda impressão nos meses anteriores à assembleia pareceu se apresentar a sua mente com renovado significado. Seu discurso foi um poderoso apelo para que os adventistas do sétimo dia erguessem diante do mundo os aspectos distintivos de sua fé. Esta foi a síntese do que ela disse:
“‘Enquanto estava em Salamanca, Nova York, assuntos de importância me foram revelados. Numa visão noturna, parecia que eu estava aqui em Battle Creek; e o anjo mensageiro me ordenou: ‘Siga-me’’. Ela hesitou. A cena desapareceu. Ela não conseguia se lembrar dela. Continuou então a falar sobre nosso dever de ressaltar os aspectos distintivos de nossa fé. Em seguida, disse: ‘Preciso lhes falar a respeito da visão que tive em Salamanca, pois nessa visão assuntos importantes me foram revelados. Na visão, parecia me encontrar em Battle Creek. Fui conduzida até o escritório da Review and Herald, e o anjo mensageiro me ordenou: ‘Siga-me’’. Novamente ela vacilou. A cena havia desaparecido de sua mente. Ela continuou o sermão e, pela terceira vez naquela tarde, tentou relatar a visão, mas não lhe foi permitido contá-la. Finalmente, disse: ‘Sobre isso, terei mais a dizer depois’. Ela concluiu seu sermão depois de aproximadamente uma hora, e a reunião foi encerrada. Todos perceberam que ela não conseguia se lembrar da visão” (A. L. White. In: T. H. Jemison, A Prophet Among You, p. 476).
No final daquela tarde, foi realizada uma reunião de ministros na sala leste do Tabernáculo. Ellen White estava presente e apelou por uma consagração mais profunda. No final dessa reunião especial, o pastor O. A. Olsen perguntou se ela gostaria de assistir à reunião de ministros da manhã. Ela respondeu que havia cumprido a parte dela e deixaria a responsabilidade com ele. Assim, ficou acertado que Olsen e Prescott dirigissem a reunião.
Naquele sábado à noite, 7 de março, após o pôr do sol e depois de Ellen White ter se retirado para seu quarto, uma reunião especial a portas fechadas foi realizada na capela do escritório da Review and Herald. Cerca de 30 a 40 pessoas estavam presentes, na maioria representantes da Associação Nacional de Liberdade Religiosa e alguns representantes da Pacific Press, que publicava o American Sentinel. A reunião foi iniciada e conduzida por Dan Jones, vice-presidente da ANLR. Ele declarou de modo bem categórico que a Associação não poderia continuar a usar o American Sentinel como órgão da Associação, a menos que o periódico modificasse sua postura com relação ao que foi descrito como os aspectos mais objetáveis de nossos pontos de vista denominacionais. A. T. Jones reagiu afirmando que enquanto ele tivesse alguma ligação com a editoração da revista, não haveria nenhuma mudança, conforme sugerido. Após isso, a reunião foi dominada por uma acalorada discussão entre os que mantinham ideias opostas sobre a questão. A essa altura, alguém trancou a porta e propôs que não fosse aberta até que o assunto ficasse resolvido.
Em determinado momento da reunião, A. F. Ballenger, membro da Comissão Executiva da ANLR, levantou-se e ergueu a edição mais recente do Sentinel, chamando a atenção para alguns artigos que deveriam ser omitidos. A. T. Jones e C. P. Bowman haviam publicado na revista alguns artigos bem diretos sobre a questão do sábado e sobre o segundo advento e a relação desses temas com a liberdade religiosa. Muitos membros da ANLR reprovaram os artigos ardentemente, pois achavam que eram muito “fortes”. Eles não queriam que nada de natureza sectária que apelasse às Escrituras fosse publicado no Sentinel. Queriam apenas que a revista defendesse os amplos princípios da liberdade civil e religiosa e evitasse qualquer filiação religiosa. Argumentavam que a revista era lida com aprovação por homens de influência no Estado e nas igrejas; e que, se passássemos agora a ferir a sensibilidade deles por meio de fortes declarações a respeito do sábado do sétimo dia e do final do mundo, estaríamos tomando um passo suicida com relação aos interesses do American Sentinel e da ANLR.
A reunião se estendeu por horas num aparente impasse. Os representantes da ANLR insistiam que, a menos que a Pacific Press concordasse com suas exigências e retirasse das colunas da revista os fortes artigos, bem como os termos “adventistas do sétimo dia” e “o sábado”, eles não mais usariam o periódico como órgão da Associação. Isso significaria matar a revista, pois muito poucos estariam ativamente comercializando o periódico. Finalmente, faltando pouco para as 3 horas da manhã de domingo, um voto foi tomado. A maioria votou descontinuar o Sentinel e iniciar outro periódico como órgão da Associação Nacional de Liberdade Religiosa. A porta foi então destrancada e todos se dirigiram a seus quartos para dormir algumas curtas horas antes do início da reunião matinal às 5h30.
Só podemos ficar imaginando como A. T. Jones devia estar se sentindo quando foi para o quarto. A verdadeira causa da liberdade religiosa, pela qual lutara tão arduamente, parecia destinada ao fracasso. Os que deveriam tê-lo apoiado trataram seus diligentes esforços com desdém e ridículo. Mas Deus, que não dormita nem dorme, estava plenamente ciente do que havia ocorrido. Assim que a reunião foi encerrada, um anjo foi comissionado a despertar Ellen White. Agora era o momento de ela compartilhar o que lhe havia sido revelado em Salamanca. Levantando-se da cama, Ellen White caminhou até sua escrivaninha e pegou os diários em que havia registrado o que lhe fora mostrado. À medida que as cenas lhe vinham à mente com mais clareza, ela se pôs a escrever em maiores detalhes o que por muitas vezes fora incapaz de compartilhar.
Quando W. C. White e outros dois irmãos passaram pela residência de Ellen White, ao se dirigirem para a reunião matinal, perceberam que a luz estava acesa. Sabendo que sua mãe não havia planejado assistir à reunião matinal, W. C. White entrou para verificar se tudo estava bem. Ele a encontrou escrevendo apressadamente. Ellen White lhe contou que um anjo de Deus a havia acordado por volta das 3 horas e pedido que ela fosse à reunião de ministros para relatar algumas coisas que lhe haviam sido mostradas em Salamanca. Ela disse então que se levantou rapidamente e já fazia duas horas que estava escrevendo.
Na reunião ministerial, assim que a oração inicial foi concluída, Ellen White entrou com um pacote de manuscritos debaixo do braço. Com nítida surpresa, o irmão Olsen disse: “Estamos felizes em vê-la, irmã White. A senhora tem uma mensagem para nós nesta manhã?” “Certamente, tenho”, foi sua resposta, dirigindo-se para a frente. Em seguida, começou de onde havia parado no dia anterior. Contou aos irmãos como havia sido acordada naquela exata manhã e impressionada a compartilhar com eles o que lhe havia sido mostrado em Salamanca. Contou-lhes também como havia visto a si mesma “apresentando uma mensagem a uma assembleia que parecia ser a da Associação Geral”.
“Fui movida pelo Espírito de Deus a dizer muitas coisas, a fazer os mais fervorosos apelos, pois me foi revelada claramente a verdade de que grande perigo se encontrava diante dos que trabalham no centro da obra. […] As palavras deviam ser ditas com toda a seriedade. ‘Fale a palavra que Eu lhe der, para impedir que façam coisas que separariam Deus da casa publicadora e sacrificariam puros e santos princípios que devem ser mantidos’. […] Muitas coisas me foram reveladas. Os olhos que uma vez choraram sobre a impenitente Jerusalém – devido a sua impenitência, ignorância de Deus e de Jesus Cristo, seu Redentor – estavam curvados sobre o grande centro da obra em Battle Creek. […]”
“As observações espirituosas e suas críticas mordazes, no estilo dos incrédulos, agradam ao diabo, mas não a Deus. O Espírito de Deus não tem exercido controle em suas assembleias. Tem havido falsas declarações a respeito dos mensageiros e das mensagens que apresentam. Como vocês ousam fazer isso? […] Nenhuma confiança deveria ser colocada na opinião daqueles que procedem assim, e nenhum peso atribuído a seus conselhos e resoluções. […] Acusar os obreiros e a obra daqueles a quem Deus está usando significa acusar Jesus Cristo na pessoa de Seus santos. […] Os preconceitos e opiniões que prevaleceram em Minneapolis não morreram de forma alguma. As sementes que foram ali semeadas estão prontas para germinar e produzir semelhante colheita, pois as raízes ainda permanecem. As folhagens foram cortadas, mas as raízes não estão mortas e produzirão seus frutos não santificados para envenenar a percepção e cegar o entendimento daqueles com quem vocês se relacionam com respeito aos mensageiros e as mensagens que Deus envia” (1888 Materials, p. 917-949).
Aqueles que haviam criticado A. T. Jones por seu trabalho no Sentinel tinham um julgamento equivocado. Muitos deles haviam se arrependido no ano anterior durante o Instituto Ministerial de 1890, mas o arrependimento não era genuíno. Somente “as folhagens” haviam sido cortadas; as raízes ainda estavam lá esperando a oportunidade para brotarem novamente. Durante a reunião, Ellen White falou sobre os homens do mundo que afirmavam que só dariam apoio se os adventistas suavizassem sua mensagem:
“Eles dizem: ‘Porque vocês tornam, em seus ensinos, o sábado tão proeminente? Esse ponto parece sempre nos ser lançado em rosto. Nós estaríamos em harmonia com vocês se vocês não mencionassem tanto esse ponto. Eliminem o sábado do sétimo dia do Sentinel, e nós o apoiaremos e usaremos nossa influência em favor dele’. E tem havido da parte de alguns de nossos obreiros uma disposição para adotar esse procedimento.”
“Foi-me ordenado adverti-los de que sentimentos enganosos estão sendo nutridos – sentimentos de falsa modéstia e cautela e uma disposição para abrir mão da profissão de nossa fé. Durante a noite, têm-me sido apresentados alguns assuntos que perturbaram imensamente minha mente. Pareceu-me estar em reuniões consultivas em que esses assuntos eram discutidos e documentos escritos defendendo uma política de concessão. Irmãos, deixaremos que o mundo molde a mensagem que Deus nos comissionou para apresentar-lhes? […]”
Iremos nós, por causa de medidas estratégicas, trair um sagrado depósito? Se o mundo está em erro e ilusão, transgredindo a lei de Deus, não é nosso dever mostrar seu pecado e perigo? Cabe a nós proclamar a terceira mensagem angélica.”
“Qual é a razão do Sentinel senão a de ser a voz dos atalaias sobre os muros de Sião e de fazer soar o sinal de perigo? Não devemos nos preocupar em bajular o mundo e pedir desculpas por lhes dizermos a verdade. Devemos rejeitar todo mascaramento. […] Que fique entendido que os adventistas do sétimo dia não podem fazer nenhum tipo de concessão. Em suas opiniões e declarações de fé, vocês não devem dar a mínima aparência de que estão vacilando. O mundo tem o direito de saber o que esperar de nós, e nos considerará desonestos […] se estamparmos a mínima aparência que seja de não comprometimento” (Manuscrito 16, 4 de dezembro de 1890).
Ellen White então descreveu o tratamento que o American Sentinel havia recebido e falou de seu guia celestial, que o defendeu das críticas:
“Durante a noite, eu me vi presente em várias reuniões, e ali ouvi palavras repetidas por homens de influência ressaltando que, se o American Sentinel retirasse as palavras “Adventistas do Sétimo Dia” de suas colunas e nada dissesse sobre o sábado, as grandes personalidades do mundo o patrocinariam. Ele se tornaria popular e realizaria uma obra mais ampla. A ideia pareceu muito agradável. Esses homens não conseguiam enxergar por que não poderíamos nos associar com descrentes e pessoas que não professam fé religiosa a fim de fazer do Sentinel um grande sucesso. Vi que seus semblantes brilhavam ao começarem a planejar uma política de trabalho para tornar o Sentinel um sucesso popular.”
“Essa medida é o primeiro passo em uma sucessão de passos errados. Os princípios defendidos no American Sentinel representam o aspecto essencial e mais fundamental de todo nosso empenho em defender o sábado; e quando homens começam a falar sobre mudar esses princípios, estão fazendo uma obra que não lhes compete fazer. Como Uzá, estão tentando segurar a arca que pertence a Deus e se encontra sob Sua supervisão especial. Disse meu guia aos que estavam nessas reuniões: ‘Quem dentre vocês tem sentido o fardo da causa desde o início e arcado com responsabilidades sob circunstâncias probantes? Quem tem carregado o fardo do trabalho durante os anos de sua existência? Quem tem praticado a renúncia e sacrifício próprio? O Senhor designou um lugar para Seus servos leais, cuja voz tem sido ouvida em palavras de advertência. Ele levou avante Sua obra antes que qualquer um de vocês colocasse a mão nela, e Ele pode encontrar, e certamente encontrará, um lugar para a verdade que vocês querem suprimir. A verdade para este tempo tem sido publicada no American Sentinel. Cuidado com o que vocês estão fazendo. ‘‘Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam’’’” (Manuscrito 29, 1890).
Foi o “guia” de Ellen White que fez aquelas penetrantes perguntas aos que estavam criticando os “servos leias” do Senhor. E. J. Waggoner e A. T. Jones haviam “carregado o fardo do trabalho” em prol da liberdade religiosa “durante os anos de sua existência”. Eles haviam praticado “renúncia e sacrifício próprio” enquanto Dan Jones e outros procuravam apenas ridicularizar o empenho deles. O guia de Ellen White não pronunciou uma palavra sequer de censura contra Jones e Waggoner, mas simplesmente afirmou que Deus encontraria um lugar para “a verdade” que vinha sendo “publicada” pelo Sentinel. Ellen White então falou de outra reunião que havia observado:
“Eu estava presente em uma de suas reuniões. Alguém se levantou e ergueu uma revista de modo muito decidido e enérgico. Pude ler claramente o título – American Sentinel. Houve críticas a respeito dos artigos publicados ali. Foi declarado que um deveria ser eliminado, e outro, mudado. Palavras pesadas foram pronunciadas, e um forte espírito contrário ao de Cristo predominava. Meu guia me deu palavras para falar aos que estavam presentes e que não hesitavam em fazer suas acusações. Apresentarei um resumo da reprovação dada: havia um espírito de discórdia no meio da reunião. O Senhor não havia presidido essas reuniões, e a mente e coração deles não estavam sob a influência controladora do Espírito de Deus. Deixem que os adversários de nossa fé sejam os que instigam e desenvolvem planos que estão sendo idealizados. […] A luz que o Senhor concedeu deveria ser respeitada para a própria segurança de vocês, bem como para a segurança da igreja de Deus. […]”
“Vocês precisarão fazer caminhos retos para seus pés, para que eles não se extraviem do caminho. […] Sei que uma obra deve ser feita em favor do povo; caso contrário, muitos não receberão a luz do anjo que é enviado do Céu para encher toda a Terra com sua glória. Não pensem que, quando a chuva serôdia vier, vocês serão um vaso para honra a fim de receberem as chuvas de bênçãos – a própria glória de Deus – enquanto continuam a oferecer a alma para a vaidade, falar coisas perversas e secretamente nutrir as raízes da amargura que vocês levaram a Minneapolis, as quais vocês têm cultivado com cuidado e regado desde então” (Ibid.).
Ellen White continuou dizendo aos irmãos que lhe havia sido mostrado que o Sentinel estava sendo amplamente lido e recebido com aprovação. Ele havia conquistado a confiança de pessoas que tinham o direito de receber a luz completa da verdade. Esses artigos, em vez de diminuir a lista de assinantes, aumentariam sua circulação e procura. Ellen White perguntou solenemente: “Deve o nosso povo agora eliminar a mensagem do sábado do Sentinel e dar ouvidos às sugestões e conselhos de homens mundanos e impedir, assim, que o Sentinel transmita essa verdade tão importante ao mundo?” (Manuscrito 59). Várias vezes durante sua prolongada fala, Ellen White mencionou o povo de Israel e a rebelião que provocou os juízos de Deus. Mencionou especificamente a experiência de Elias – as provações suportadas e a mensagem que deu. Ela claramente comparou a vida do profeta não somente com sua própria experiência, mas também com a experiência de Jones e Waggoner, que haviam sido muito caluniados pelo trabalho deles em favor da liberdade religiosa por meio do Sentinel:
É só um cristão andar com o Senhor com toda a humildade de coração, e logo é chamado de estreito, bitolado e afetado. Se é zeloso, o mundo o chamará de fanático. Se fala a verdade com determinação pela escrita e pela voz e sai no espírito e poder de Elias para proclamar o dia do Senhor, é chamado de agitador. Começam a dizer que ele critica tudo, exceto aquilo em que acredita. É só o cristão demonstrar o que a graça pode fazer por ele, e o mundo não consegue entender. […]”
“Vejamos o caso de Elias. […] O rei acusa Elias: ‘És tu, ó perturbador de Israel?’ (1Rs 18:17). Será que ele trai sagrados depósitos porque Israel perverteu a fé e renunciou à sua fidelidade para com Deus? Ele profetiza coisas suaves para agradar ao rei, apaziguá-lo e garantir seu favor? […] Não, não! Elias é um homem que proclama a verdade, exatamente a verdade que a ocasião exige. […] Elias respondeu: ‘Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do SENHOR e seguistes os baalins’ (1Rs 18:18). Este é exatamente o curso que homens que no momento ocupam posições tomarão. […] Tenho uma advertência a dar a este corpo de obreiros reunidos neste recinto em assembleia da Associação Geral. Há o perigo de que nossas instituições estabeleçam planos, métodos e mecanismos que não significam sucesso, mas derrota. […]”
“Tem havido um afastamento de Deus, e até o momento não houve zeloso trabalho de arrependimento e retorno a nosso primeiro amor. […] Baal será o propósito, a fé e a religião de um lamentável número entre nós, visto que escolhem seu próprio caminho em vez do caminho de Deus. A religião verdadeira, a única religião da Bíblia – crer no perdão dos pecados, na justiça de Cristo e no sangue do cordeiro – tem sido desprezada, contestada, ridicularizada e criticada; como não bastasse, têm-se desenvolvido suspeitas e ciúmes que conduzem ao fanatismo e ateísmo” (Ibid.).
A reunião matinal de ministros, que geralmente terminava às 6h30, tomou boa parte da manhã. Depois que Ellen White terminou de ler e falar, sentou-se, e todos ficaram em completo silêncio. Os que não haviam estado presentes na reunião da noite anterior estavam pasmos. O pastor Olsen estava profundamente perplexo, pois não sabia nada a respeito dessa reunião. Tão grande foi a surpresa, e as coisas apresentadas por Ellen White lhe pareciam tão absurdas, que Olsen se viu completamente desnorteado, sem saber o que tudo aquilo significava. O silêncio foi finalmente quebrado pela voz chorosa de A. F. Ballenger. Erguendo a última edição do American Sentinel, Ballenger apontou para o artigo da primeira página e disse: “‘Eu estava na reunião noite passada; eu sou o homem que fez as observações sobre os artigos da revista’”. “‘Este é o artigo que a irmã White mencionou, e eu sou o homem que disse que esses artigos pesados não deveriam aparecer no Sentinel’”. Em seguida, Ballenger confessou seu erro: “‘Sinto em dizer que eu estava do lado errado, mas aproveito esta oportunidade para me colocar do lado certo’”.
Ellen White, que pela primeira vez colocava os olhos no último número do Sentinel – o mesmo que vira apenas em sonho –, permanecia sentada com um olhar de perplexidade no rosto. Ela se voltou para o irmão Ballenger e exclamou estupefata: “Noite passada? A reunião foi noite passada?” Um por um, os homens que haviam assistido à reunião na noite anterior se levantaram e confessaram sua participação no que havia ocorrido. Até mesmo os que haviam defendido o Sentinel se manifestaram por meio de testemunhos de ação de graças. C. H. Jones afirmou que Ellen White havia descrito a reunião corretamente em cada detalhe e que se sentia muito grato pela luz apresentada, pois a situação havia ficado crítica. Em determinado momento da reunião matinal, Dan Jones, que na noite anterior havia tomado a frente nos esforços para matar o Sentinel, levantou-se e confessou: “‘Irmã White, pensei que estava certo. Agora reconheço que estava errado’”. A. T. Jones, que havia presenciado o Sentinel sofrer aparente derrota, respondeu com humildade e abnegação: “‘De qualquer maneira, você está certo agora’” (A. T. Robinson, “Personal Experiences in Connection with the work of Sister White”. Em: Manuscript Releases, No. 1033, “The Salamanca Vision and the 1890 Diary”, p. 75). O Espírito Santo havia se manifestado de forma poderosa, e um espírito diferente marcou a reunião.
Em razão da sequência de acontecimentos cujo ápice foi a reunião matinal, Ellen White declarou posteriormente que “ninguém poderia apresentar a desculpa de que ‘alguém lhe contou’. Ninguém teve condição de me ver ou falar comigo entre a reunião da noite e a reunião matinal a que assisti” (Manuscrito 59, 1905). Esse episódio tem o grande mérito de não somente ter poupado, por certo tempo, a causa de Deus de grave erro, mas também proporcionou a muitos evidências irrefutáveis da confiabilidade e integridade do Espírito de Profecia.
Infelizmente, o episódio não pôs fim à oposição que Jones e Waggoner receberam. É interessante notar também que foi nessa assembleia da Associação Geral que foi tomada a decisão de enviar Ellen White para a Austrália – uma ação que não representou a vontade de Deus, mas dos homens, conforme foi revelado a Ellen White posteriormente.
1 Nota cultural dos editores em língua portuguesa: Existe em língua inglesa duas palavras que podem ser traduzidas como “sábado” em português. A primeira é Saturday, que é o nome secular para o sétimo dia da semana. A segunda é Sabbath, termo bíblico hebraico que significa “descanso”, e encontrado no quarto mandamento e no decorrer de todas as Escrituras. Esta palavra é usada apenas em contexto religioso. Na cultura anglo-americana, o termo Sabbath pode se referir tanto ao sábado do sétimo dia [Saturday] quanto ao domingo [Sunday], o primeiro dia da semana, dependendo da convicção religiosa e teológica de cada um. O leitor deve ficar atento, pois, em alguns momentos, a palavra “sábado” – tradução do inglês “Sabbath” – pode ser usada nesta obra para se referir ao domingo como dia de descanso, o que ocorreu neste parágrafo.